Um guia completo sobre 4 quatro espécies de abelhas brasileiras e seus méis.
Quando falamos em abelhas, de modo geral, é comum as pessoas pensarem em uma única espécie e no ferrão – o que não é o caso. É preciso considerar, no entanto, a grande diversidade dessas polinizadoras, entendendo que existem várias espécies de abelhas. Afinal, se mel não é tudo igual, com as abelhas não poderia ser diferente.
A maior quantidade de mel consumido no território brasileiro é produzido pelas abelhas africanizadas e com ferrão (Apis mellifera), que são o resultado do cruzamento entre abelhas-europeias e africanas. Você pode saber mais sobre o assunto nesta entrevista com o Prof. Dr. Lionel Gonçalves, pesquisador e professor titular aposentado da USP de Ribeirão Preto.
Mas uma pesquisa realizada pela Embrapa Meio Ambiente revelou que existem por volta de 250 espécies de abelhas nativas ou abelhas-sem-ferrão (ASF) no Brasil.
Com a crescente da meliponicultura em nosso país e a qualidade dos méis reconhecidos mundo afora, outras espécies ganham cada vez mais destaque. Conhecidas também como melíponas, as abelhas-sem-ferrão auxiliam no equilíbrio biológico dos diversos biomas brasileiros, assim como na preservação de espécies vegetais. Neste artigo, você conhecerá quatro espécies de abelhas nativas e seus méis: jataí, mandaçaia, uruçu e borá. Boa leitura!
Rainha da popularidade: a abelha jataí e seu mel
Graças à vasta extensão territorial brasileira, a abelha jataí (Tetragonisca angustula) também pode ser conhecida por: jataí-amarela, jati, minguinho, abelha-mosquito, entre outros nomes. Em primeiro lugar, elas são conhecidas por sua alta organização de trabalho em grupo, isso quer dizer que dentro das colônias há inúmeras operárias que se dedicam à construção e manutenção do local, assim como à coleta e ao processamento do alimento.
As abelhas jataí são muito populares e comumente encontradas não só no Brasil, como também em toda a América do Sul e em alguns países da América Central. Elas se adaptam muito bem aos ambientes urbanos e podem ser cultivadas em casa, por meio das casinhas de madeira desenvolvidas para atender às especificidades da espécie.
Diferentemente de outras espécies de abelhas, as jataí se reproduzem apenas uma vez ao ano, sobretudo, no verão. É importante destacar que elas são responsáveis por cerca de 30% a 80% da polinização das plantas nas regiões em que vivem.
Assim como a própolis, a cera e o pólen, o mel produzido pelas abelhas jataí é de extrema qualidade e possui propriedades medicinais, sendo um poderoso anti-inflamatório, em particular, nos tratamentos relacionados aos olhos como glaucoma e catarata. Da mesma forma, é muito procurado para resfriados e como cicatrizante.
As pacíficas abelhas mandaçaia e seu mel gastronômico
As abelhas mandaçaias (Melipona quadrifasciata) são mais recorrentes nas regiões da Mata Atlântica e do Serrado. Elas possuem um comportamento bem tranquilo e são consideradas extremamente mansas. Ao analisar uma colmeia, você perceberá que seus ninhos permitem a entrada de uma abelha por vez dentro da colônia.
Elas produzem um mel mais líquido, de cor clara, menos doce e mais cítrico. Não à toa o mel de mandaçaia está na lista de queridinhos dos chefs.
Outra característica das abelhas mandaçaias é que elas podem voar até 1,5km para coletarem pólen, néctar e resina; e habitualmente são atraídas por plantas e frutos como: pitangas, mandioqueiras, assa-peixe, oiti-do-sertão e guaco, só para citar algumas das mais de cinquenta espécies presentes na flora brasileira e que são visitadas por estas polinizadoras.
Os benefícios do mel de mandaçaia para a saúde humana estão ligados, principalmente, às suas atividades antibacterianas e pode ser um superaliado no tratamento de conjuntivite, por exemplo.
Doce mel, mel de uruçu
Seu nome, de origem tupi, significa “abelha grande”. Todavia, ela é tão calma quanto a sua grandeza. Encontrada nas regiões litorâneas do Norte e Nordeste do Brasil, a abelha uruçu-nordestina (Melipona scutellaris) possui uma alta produtividade, dependendo das condições climáticas e da florada.
Sua importância é inegável: esta espécie de abelha é responsável por 90% da polinização dos biomas nos quais está inserida; tanto que um estudo revelou que elas estão intimamente ligadas à polinização de laranjas.
Devido à umidade presente em sua geolocalização, o mel produzido pelas uruçu-nordestinas é composto por 28% de água, ou seja, 10% a mais do que o comum.
No entanto, infelizmente, a espécie está ameaçada de extinção, o que faz com que o seu mel seja comercializado por um valor dez vezes maior que o mel comum.
O mel de uruçu-nordestina também está presente na lista dos mais renomados chefs do Brasil, que chegam a utilizá-lo na produção de uma manteiga, pratos e drinks. Além disso, existem os benefícios à saúde graças às suas propriedades bactericidas, energéticas e antioxidantes.
Abelhas borá e seu mel excêntrico
Quando alguém diz, você vê ou lê a palavra mel, logo associa ao sabor adocicado, que normalmente conhecemos. Mas saiba que existe um mel levemente salgado, com acidez bem acentuada e dono de um aroma que remete ao sabor do queijo parmesão – é o mel das abelhas borá (Tetragona clavipes), nativas e sem ferrão.
Encontrada, sobretudo, nas regiões norte e nordeste; e com ocorrência em alguns locais do centro-oeste, sul e sudeste do Brasil, a abelha borá possui estrutura mais comprida, com asas mais longas que o próprio corpo. Pela semelhança com a abelha jataí, só que maior, muitos a chamam de “jataizão”. Diferentemente das outras espécies de abelhas que citamos aqui, os ninhos das abelhas borá não possuem um tipo de canudo para entrada das polinizadoras, se assemelhando, de certa forma, com uma boca entreaberta.
A autenticidade do mel de borá o torna perfeito para harmonizar com pratos que vão muito além das saladas como: pato, peixes e carne porco, por exemplo. Nem precisa dizer que sua presença é recorrente nas mais cobiçadas preparações gastronômicas.
Recentemente, nós publicamos um artigo com algumas receitas juninas com mel para você fazer em casa. Aproveite e explore novos sabores!
Gostou da matéria? Conte pra gente nos comentários outros assunto que você quer ver por aqui.